A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) destaca-se pelo amplo potencial petrolífero dos seus estados-membros, nomeadamente, Angola, Brasil, Guiné Equatorial, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, que são países produtores de petróleo & gás e detentores de amplas reservas provadas destes recursos.
Em 2020 os países produtores da CPLP no agregado produziram em média 4,379 milhões de barris de petróleo por dia, representando cerca de 4% da produção mundial de petróleo. Deste total de produção, o Brasil e Angola juntos foram responsáveis pela produção mais de 4,216 milhões de barris por dia, sendo que cerca de 148 mil barris foram produzidos pela Guiné-Equatorial e os remanescentes 14 mil barris representam a produção de Timor-Leste.
Produção de Petróleo da CPLP

Se por um lado o petróleo representa um factor de estrangulamento macroeconómico principalmente para Angola, pelo facto de ser um país petro-dependente em que o orçamento e exportações dependem excessivamente do petróleo, ainda assim, até mesmo o Brasil, com uma economia já diversificada também olha para o petróleo como um factor de desenvolvimento e estabilidade económica. O facto de a indústria petrolífera poder gerar receitas significativas, fez com que outros países da CPLP criassem um interesse em desenvolver estes recursos, sendo que esta é já uma realidade de Moçambique, Guiné-Equatorial, Timor-Leste e até mesmo São-Tomé.
Não obstante, e pelo facto de a exploração de petróleo também poder permitir o desenvolvimento de projectos de gás natural, que revelou ser mais amigo do ambiente e um combustível do futuro, já é visível a nível da CPLP uma certa sustentabilidade e suficiência no que tange ao gás natural, destacando-se grandes projectos de processamento de LNG com realce a Fábrica Angola LNG na província do Zaire, a central de processamento de gás localizada em Tamane, província de Inhame, em Moçambique.
Produção de Gás Natural da CPLP

Angola, Brasil e Moçambique podem ser considerados como países auto-suficientes no que tange a exploração de gás natural. O Brasil destaca-se com um volume diário de processamento de gás na ordem dos 127 milhões de metros cúbicos por dia, seguido de Angola e Moçambique. Cerca de 65% do gás produzido em Angola é re-injectado e o remanesceste é disponibilizado como matéria-prima para a Fábrica ALNG e na geração de energia para as instalações petrolíferas. O gás produzido em Moçambique é processado na Central de Temane, sendo que cerca de 80% deste gás é exportado para África do Sul e o remanescente vendido no mercado interno.
Consumo de Petróleo da CPLP

Portugal destaca-se na lista dos países da CPLP que mais consomem produtos derivados de petróleo, com uma demanda diária de cerca de 337 mil barris de petróleos, ocupando assim a segunda posição no ranking dos países da CPLP que mais consomem petróleo depois do Brasil. Angola ocupa a terceira posição com um consumo diário de 122 mil barris, seguido de Moçambique com um consumo em volta dos 40 mil barris dia.
O Brasil é de longe o maior produtor, consumidor e importador de petróleo da CPLP, com uma produção de 2,95 MBPD, consumo de 2,4 MBPD, importação de 133 KBPD e uma capacidade interna de refino que ronda os 2,41 MBPD. Portugal tem uma capacidade de refino de 330 KBPD, processados em duas refinarias da Galp, e até a data ainda não declarou qualquer descoberta comercial de petróleo. Angola através da Refinaria de Luanda tem uma capacidade de refino de 60 KBPD. Os demais países membros da CPLP não possuem qualquer capacidade de refino.
Reservas de Petróleo da CPLP

Actualmente as reservas petrolíferas provadas e combinadas dos países membros produtores estão estimadas em cerca de 24 biliões de barris de petróleo e 137 Triliões de metros cúbicos de gás natural o que coloca a comunidade no ranking de 13ª maior reserva de petróleo e 10ª maior reserva de gás do mundo.

Portugal, Guiné-Bissau, Cabo verde, São Tomé não declararam ainda quaisquer descobertas comerciais de petróleo e gás. Moçambique, apesar de não ter ainda descobertas comerciais de petróleo, conta com uma reserva de gás natural de 100 triliões de pés cúbicos de gás, tonando-se num dos principais hotspots para o desenvolvimento de projectos de LNG do mundo.
Projectos em Curso na CPLP
Moçambique
Ao longo dos próximos 10 anos, espera-se que Moçambique se torne num grande exportador de gás natural liquefeito (GNL), devido descoberta massiva de reservas de gás natural na bacia do Rovuma, no norte do país. As recentes descobertas de Hidrocarbonetos, colocaram Moçambique entre os 13 países com as maiores reservas de Gás Natural do mundo,
Estão em andamento os seguintes projectos:
1- A Construção de 6 fábricas de GNL na concessão AREA 1, as duas primeiras fábricas alcançaram a decisão final de investimento (FID) em 2019 no valor de $23 biliões. O projecto está a ser levado acabo da pela TotalEnergies
2- Exploração de novos blocos e construção de mais instalações de GNL em terra no Parque de GNL de Afungi. O projecto está sobre a responsabilidade da ENI e a ExxonMobil. Em 2017, a ENI anunciou o FID de $8 biliões para a construção de 6 poços submarinos conectados a uma instalação de produção de Gás Natural Liquificado Flutuante (FLNG) com conclusão prevista para 2022.
Guiné-Equatorial
A Guiné Equatorial planeia construir o 2º trem de LNG para processar o gás produzido internamente e de países vizinhos como Camarões e Nigéria; por outro lado, espera-se que a Ophir Energy, sediada no Reino Unido avance com o desenvolvimento do projecto de LNG flutuante em Fortuna. A Guiné-Equatorial busca se beneficiar da sua localização geográfica e instalações, para se tornar num pólo regional de energia.
Timor-Leste
O país tem em carteira o desenvolvimento do projecto Tasi Mane que se consubstancia na criação da base logística do Suai, construção do complexo de petroquímica e a refinaria de Betano, assim como o desenvolvimento do projecto de GNL em Beaço. Timor-Leste espera gerar energia de forma menos dispendiosa, mais limpa e sustentável, através da utilização de energias renováveis como o solar ou através do Gás Natural Liquefeito (LNG).
Brasil
O Brasil espera elevar a sua produção para 5,3 MBPD em 2030 e tornar-se no 5 maior exportador de petróleo do mundo. Para Isso, o país está concentrado no desenvolvimento dos prolíferos campos do pré-sal.
Angola
Angola criou um plano ambicioso de licitação de 55 blocos petrolíferos até 2025. O projecto foi lançado em 2019 em que já foram licitados 10 blocos petrolíferos na bacia do Namibe offshore e actualmente encontram-se 9 blocos em licitação referentes as bacias do baixo Congo e do Kwanza onshore. Não obstante, Angola pretende elevar a capacidade de refinação do país para um volume de processamento de petróleo bruto de cerca de 430 KBPD até 2025 com a construção das refinarias de Cabinda, Zaire, Lobito e com com o upgrade da refinaria de Luanda.
Oportunidades de Cooperação na CPLP a Nível do Sector dos Petróleos e Energias.
O factor língua é sem sombra de dúvidas o factor crucial para uma melhor cooperação entre os estados-membros da CPLP no que tange o sector energético, uma vez que facilita a troca de experiência e know-how, assim como uma maior proximidade a nível de negociação e investimentos.
Embora haja alguns países da CPLP sem experiência e sem recursos petrolíferos, ainda assim, esses países são consumidores de produtos derivados de petróleo, factor que deve impulsionar o trading desses produtos a nível da Comunidade. Há uma grande correlação entre os países membros da CPLP, tendo em conta que Brasil e Angola possuem uma vasta experiência no desenvolvimento de projectos petrolíferos e poderão servir de suporte para o desenvolvimento da indústria de petróleo e gás de outros estados-membros como é o caso de Moçambique, Guiné-Equatorial e Timor-Leste. Não obstante, as capacidades de refino e as necessidades de consumo podem sem absorvidas entre os estados-membros sem necessariamente se recorrer a outras fontes.
A cooperação também deverá ser estendida ao nível de disponibilização e formação de mão de obra qualificada, no sentido de atender as necessidades técnicas desta indústria desafiadora e em constante evolução. É necessário se desenvolver centros de formação de excelência para poder formar os profissionais da CPLP em matérias ligadas ao petróleo, gás e energias, com programas desenvolvidos na língua portuguesa.
Posicionamento dos Países da CPLP Face a Transição Energética
As alterações climáticas e a degradação do meio ambiente representam uma ameaça existencial para o mundo, de formas a contrapor estes desafios, as principais organizações a nível mundial traçaram um plano estratégico de contenção que se consubstancia na redução do consumo dos combustíveis fósseis e na aposta pelas energias renováveis. As metas para um futuro sustentável, livre das emissões de gases de efeito estufa, são extremamente ambiciosas, e conforme o acordo de Paris para o clima, até 2030 espera-se a redução substancial do consumo das energias primárias e até 2050 o fim do consumo destas energias.
A transição energética marcha a passos largos e é inevitável, os esforços de descarbonização do mundo pela substituição do actual modelo energético pelos recursos renováveis colocam cada vez mais pressão sobre os países produtores de petróleo e sobretudo os estados petrodependentes deixando-os em uma posição desfavorável.
A mudança da matriz energética global encontra amparo nos países da CPLP, pois estes dispõem em abundância dos principais recursos renováveis, porém essa transição constitui-se como um grande desafio para estes estados que possuem uma economia muito atrelada ao sector petrolífero e fortemente dependentes do consumo dos combustíveis fósseis.
Com relação a aposta nas energias renováveis, os estados membros da CPLP estão a caminhar nesta direcção como é o caso de Moçambique, que em 2020 selecionou a Companhia Efacec para a operação e manutenção de um central solar de 41 MW, ainda em fase de instalação e conclusão, e Angola que brevemente iniciará a instalação de 7 projectos de geração de energia solar com uma capacidade total de 370 MW, um projecto avaliado em 524 milhões de euros, financiado pela empresa norte-americana Sun Africa.
Por outro lado, Brasil e Portugal estão bem melhores posicionados no que toca a aposta nas energias renováveis. Actualmente, Portugal é o 2º colocado, depois da Dinamarca, em termos de produção de energia eólica, e é considerado líder europeu na transição energética. No ano de 2020, o Fórum Económico Mundial (FEM) divulgou o Índice de Transição de Energia, que classificou Portugal com o 19.º lugar no que diz respeito à transição para energias limpas.
Hoje o Brasil ocupa a 8ª posição na classificação mundial dos países produtores de energia eólica. Com uma capacidade de 14,5 GW, o país é líder na América do Sul, e em 2020 entrou para o Top 20 de países líderes na produção de energia solar no mundo, após somar 2.120 MW em novos sistemas de geração de energia solar, que conferiu ao país a 16ª posição no ranking mundial. Vale destacar que em 2019 atingiu o total acumulado de 4.533 MW de capacidade de geração.
Apesar do engajamento dos países na aposta pelas energias limpas, os esforços feitos ainda são insuficientes para atender às metas climáticas estabelecidas pelo Acordo de Paris, por conta do elevado consumo dos combustíveis fósseis, e este é sem dúvida o grande desafio dos países da CPLP com relação a transição energética.